quarta-feira, 27 de setembro de 2017

LEISHMANIOSE CANINA: SACRIFICAR OU NÃO?


Fernanda Távora Untura in Uncategorized





Você já acompanhou o sofrimento de alguém que teve que sacrificar seu cão por causa da Leishmaniose? Este tem sido um tema que gera muitas discussões e resolvi estudar sobre o assunto para dividir aqui com vocês.



DOENÇA: A leishmaniose é uma doença transmitida através de um inseto, também conhecido como “mosquito palha”. O contágio em cães e no homem ocorre através da picada da fêmea infectada da espécie Lutzomia longipalpis. Os animais picados se tornam reservatórios do parasita, mas é impossível pegar a doença através de qualquer tipo de contato com estes animais como lambidas, mordidas ou carinhos. A leishmaniose é uma doença infecciosa, porém, não contagiosa.

Endêmica em 88 países, ela afeta principalmente áreas pobres, onde o acesso a cuidados médicos é limitado, e se não for tratada leva o animal a morte.
Há dois tipos de leishmaniose: a leishmaniose caracterizada por feridas na pele (tegumentar) e leishmaniose que afeta vários órgãos, sendo que os mais afetados são o fígado, baço e medula óssea (calazar).

PRINCIPAIS SINTOMAS: O aparecimento dos primeiros sintomas da Leishmaniose, após a transmissão pela picada pode demorar semanas ou até alguns anos; cerca de 20% dos animais infectados podem nunca manifestar sintomas. A maioria dos animais aparenta estar saudáveis na época do diagnóstico clínico, mas quando desenvolvem a doença podem apresentar os seguintes sintomas:
Apatia (desânimo, fraqueza, sonolência);
Perda de peso e/ou falta de apetite;
Anemia;
Feridas na pele, principalmente no focinho, orelhas, articulações e cauda (que demoram a cicatrizar);
Pêlos opacos, descamação e perda de pêlos;
Crescimento anormal das unhas (onicogrifose) com o avanço da doença;
Aumento abdominal (“barriga inchada” pelo aumento do fígado e do baço);
Problemas oculares (olho vermelho, secreção ocular);
Diarréia, vômito e sangramento intestinal.

DIAGNÓSTICO: O diagnóstico da leishmaniose canina deve ser realizado por um clínico veterinário, que deve considerar três fatores: o exame epidemiológico, o exame clínico, e exames laboratoriais.

A técnica para o diagnóstico não é excepcionalmente sensível e pode descrever falsos positivos ou mascarar falsos negativos. Com isso, faz-se necessário a repetição do exame.

TRATAMENTO: O tutor que optar pelo tratamento de um cão deve considerar a condição clínica do animal e estar consciente do procedimento.

Entre os custos, incluem-se medicamentos, serviços veterinários e exames laboratoriais realizados trimestralmente.

RISCOS NA CONVIVÊNCIA DE UM CÃO COM DIAGNÓSTICO POSITIVO:Não há risco para ser humano conviver com o animal infectado. A Leishmaniose como acontece no caso da dengue, é uma doença vetorial e a presença do animal doente em casa simplesmente indica que há presença do vetor naquele ambiente.

O problema é que o animal doente, quando recebe tratamento, fica livre de sintomas, mas não se livra completamente do parasita. Por isso, existe a risco de, mesmo tratado, o cão infectar o vetor e alimentar o ciclo de transmissão da doença.

COMO PREVENIR: Existe uma vacina que mostrou ter eficiência de 95%. Quando o inseto pica o cão vacinado, os anticorpos presentes no seu sangue por causa da vacina se alojam em seu organismo e esses anticorpos impedem que o parasita da leishmaniose complete o seu ciclo de vida. São três doses anuais com o custo médio de R$ 150,00 cada que devem ser dadas com 21 dias de intervalo. IMPORTANTE, antes da vacina é necessário fazer o exame de sangue para ter certeza que o cão não está contaminado. Outra opção é o uso da coleira com repelente da marca scalibor no valor médio de R$ 50,00 e deve ser trocada de 6 em 6 meses.

O mosquito-palha é um inseto bem pequeno e costuma se reproduzir em locais com muita matéria orgânica em decomposição. Portanto, evitar acúmulos de lixo de casa é uma maneira de contribuir para a saúde do meio ambiente e ao mesmo tempo evitar a proliferação dos mosquitos.

SACRIFÍCIO: Adotado desde a década de 1950 no Brasil, o sacrifício de cães tem sido questionado pela comunidade científica pela ineficácia em conter a leishmaniose visceral. A falta de eficácia da medida como política de prevenção pode ser vista a olho nu: em 1990 foram registrados 1.944 casos da doença no país, número que subiu para uma média de 3.500 a partir de 2004 e se mantém nesse patamar até hoje.

A letalidade da doença (taxa que indica a proporção de mortes por número de casos) só aumenta: passou de 3,2, em 2000, para 6,2 em 2011, segundo dados do Ministério da Saúde. Isso significa que, a cada 100 pessoas infectadas, 6,2 devem morrer. (Notícias.uol).

Além de ineficaz, matar os animais pode ter até efeito contrário ao que se espera. Isso porque, durante o rastreamento para eutanásia de cães infectados, muitas vezes são sacrificados também animais que têm o parasita, mas não desenvolvem sintomas. Mortos, eles deixam de se reproduzir e gerar indivíduos resistentes à doença. A longo prazo, sobram apenas cães sensíveis, o que poderia agravar ainda mais o cenário.

De acordo com o Ministério da Saúde, desde 1963, cães que apresentem exames soropositivos para leishmaniose visceral canina devem ser sacrificados. Será este o único caminho a tomar? Acredito que esta atitude não é uma forma de resolver o problema. O ideal é controlar o vetor através de campanhas de conscientização para a população e pesquisas com vacinas. O dinheiro gasto para fazer exames e sacrificar animais poderia ser investido em prevenção. Não devemos recomendar o sacrifício dos cães, assim como não recomendamos a eutanásia de pessoas.

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